segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lista D - Esmagados Pelas Propinas

Mesa da Assembleia Geral de Estudantes

A desagregação dos interesses estudantis veio abrir brechas por onde se infiltrou
uma política de delapidação do direito fundamental à aprendizagem. Acresce a isto a geral falta de esclarecimento reinante entre as massas académicas,
instrumentalizada politicamente como veículo de implementação de medidas
tendentes a elitizar a frequencia do Ensino Superior e - o que é, talvez, pior - reduzir à insignificância a formação superior, mediante a brutal desvalorização (podemos falar de uma deflação) laboral de qualquer grau académico, através de dispositivos como o Processo de Bolonha e o empobrecimento dos cursos (redução do número de anos, das disciplinas...), o que significa a equiparação de um licenciado (ou mesmo detentor de mestrado) a um trabalhador não-especializado/indiferenciado, no que configura um ataque sem precedentes ao respeito pelo investimento pessoal, financeiro, científico e profissional que representa frequentar um curso na Universidade. Nunca pagámos tanto para estudar como hoje. No entanto, nunca, como hoje, ter um curso significou tão pouco.
Neste quadro, torna-se imperativo reclamar um espaço de reflexão e
problematização da situação actual da Universidade Pública. Um espaço que não
renuncie à indispensável vertente reivindicativa e síndica, como forma de
resistência a uma ofensiva que visa descapitalizar a Universidade da sua vocação
crítica. Acreditamos que esse espaço é, por excelência, o de uma Associação de
Estudantes. Hoje, mais do que nunca, coloca-se a necessidade inadiável de dar
cumprimento ao papel estratégico que deve desempenhar a AEFLUP, na
congregação de esforços e vontades, na mobilização da massa académica, na
promoção do debate, na estruturação de um paradigma alternativo como a única
forma possível de assegurar que a Universidade Pública que conhecemos
sobreviverá à nossa geração.
A Assembleia Geral de Estudantes (AGE), como órgão máximo da Associação de
Estudantes, é a sede institucional da voz dos alunos. Ao longo dos últimos anos,
porém, uma clara conivência dos condutores da Assembleia Geral com as políticas inócuas da Direcção da AEFLUP transformaram o órgão no palco de uma coreografia bem ensaiada: destinadas a aprovar os planos da Direcção da AE, as AGE’s foram esvaziadas da sua indispensável dimensão problematizante,
esclarecedora, divulgadora e interventiva, não sendo, hoje, mais do que o sítio onde os membros da direcção da AEFLUP se dirigem para efectivar a disciplina de voto que garante a aprovação dos desígnios da Presidência – estamos a falar,
genericamente, de festas e iniciativas de motivação empresarial. Não é difícil,
portanto, compreender a razão pela qual tão poucos alunos comparecem às AGE’s.
O nosso projecto, porém, assenta na convicção de que é possível fundar um espaço de debate, esclarecimento, estruturação de respostas enérgicas e interventivas aos sucessivos e continuados ataques que vão sendo desferidos à garantia constitucional de um ensino superior público universal, gratuito e de qualidade. Acreditamos que é possível devolver à Assembleia Geral de Estudantes essa vocação de clareira institucional onde se abre espaço para pensar o presente da Universidade, numa perspectiva integrada capaz de situar os problemas que se colocam hoje à Universidade no panorama social que condiciona e motiva o lugar da Universidade na comunidade.
A lista D apresenta, assim, a sua candidatura à Mesa da Assembleia Geral de
Estudantes propondo a todos os colegas um compromisso de aprofundamento
consciente da participação neste órgão, baseada na efectivação consequente das
competências da AGE na defesa dos interesses dos estudantes da FLUP ,
reconhecendo o lugar incontornável da AEFLUP na reivindicação por uma
Universidade pública qualificada, livre, crítica e socialmente comprometida.

Direcção da Associação de Estudantes

A AEFLUP deve ser responsável ao representar os interesses dos
estudantes. Isto significa que não pode ficar ausente perante os cortes
nas bolsas de acção social. Uma AE responsável e dedicada informa os
estudantes sobre todo o processo que vivemos actualmente e que irá
retirar as bolsas a centenas de estudantes da Faculdade de Letras,
consequência da aprovação do decreto de lei 70/2010. Uma AE
responsável define como prioridade, num momento de crise social
agravada, conhecer a realidade sobre a comunidade que representa.
Quantos estudantes saem ou ficam fora da faculdade por não terem
dinheiro para as propinas? Quantos estudantes ficarão sem bolsa
quando precisam dela? Uma AE responsável cria espaços de
informação e reflexão conjunta procurando solucionar os problemas
que afectam os estudantes, denuncia publicamente quando as politicas
são injustas e organiza acções que reinvindicam os direitos básicos que
garentem o caracter público do ensino superior.
A AEFLUP deve ter uma posição definida sobre todas as questões que
dizem respeito à vida dos estudantes: sobre estrangulamento
financeiro que a FLUP vive e que impossibilita a abolição das barreiras
arquitectonicas que impedem a mobilidade, sobre a falta de condições
para o estudo dos trabalhadores estudantes, sobre a precariedade e o
desemprego na saída para o trabalho.
A AEFLUP deve promover activamente uma recepção ao novo aluno e
a integração do estudante na FLUP e na cidade que para muitos o
acolhe pela 1a vez. Deve cuidar das pequenas coisas que fazem a
diferença no dia a dia dos estudantes, desde o horário da biblioteca aos
espaços de jardim, da qualidade, preços e diversidade da comida do
bar à existências de espaços para estudo e trabalho em grupo.
A AEFLUP deve ter um programa cultural diversificado, que faça da
faculdade um lugar de acesso e de produção de cultura: cinema, artes
performativas, conferências, feiras do livro, workshops... Deve
promover a inclusão dos estudantes estrangeiros, ERASMUS e PALOP,
valorizando a diversidade e dando visibilidade às suas iniciativas
culturais.
A lista D é um convite também à tua participação. Porque sabemos que,
acima de tudo, uma AE responsável é aquela que cria os espaços de
democr acia e de convívio para devolver a assciação aos estudantes.